Capítulo 6
A Tutora
Quase um ano depois dos testes, chegou à nossa casa uma moça de feição sonolenta, acompanhada de Brea. Ela usava óculos fundo de garrafa e vestes negras com detalhes em amarelo, além de um chapéu de bruxa desgastado. Cabelos castanhos, levemente ruivos, apareciam por baixo do chapéu.
Ela chegou com muita bagagem e vários livros. Serviçais da cocheira que a trouxeram ajudaram com a bagagem. Tentei ajudar, mas não consegui fazer muita coisa com meu corpo pequeno. Mesmo assim, ganhei um “muito obrigado” por tentar.
Ela chegou rápido para os padrões deste mundo. Sorin me disse que viagens duram alguns meses.
Ele explicou que existem muitos círculos mágicos de transporte pelo mundo, mas o custo para usá-los é alto, pois funcionam com pedras mágicas como combustível.
Também disse que os estames são especiais. Quando perguntei o porquê, ele apenas respondeu:
— Na idade certa, você saberá!
Acho que somos enviados para alguma guerra ou coisa assim? Não quero ir para a guerra!
A falta de homens por aqui é, no mínimo, estranha. Desde que nasci neste mundo, vi somente Sorin e nenhum outro. Isso me deixava cada vez mais intrigado. Não que eu ligasse – quanto menos homens, mais garotas!
Ela não era muito mais alta que eu, mas teve de se abaixar para falar comigo, olhando nos olhos.
Ela se apresentou, falando na língua do dragão:
— Örülök, hogy találkoztunk, a nevem Mira Aelar, és nagyon boldog vagyok, hogy taníthatlak!
Depois, traduziu para mim:
— Prazer em conhecê-lo. Meu nome é Mira Aelar, e estou muito feliz em te ensinar!
Ela traduziu, mas eu já havia entendido. A língua do dragão era realmente incrível. O fato de não ser possível mentir ao usá-la trazia uma grande confiança na comunicação.
Não era fluente, mas um cumprimento eu conseguia entender perfeitamente.
— Também estou muito feliz — respondi, colocando a mão atrás da cabeça.
Assim conheci minha primeira mestra.
Ao entrarmos na casa, Mira se apresentou aos meus pais e entregou um pacote grande para Sorin, embalado com um cobertor preso por uma corda. Ao abri-lo, meu pai deu um sorriso.
— Aha! Ela fez duas! — gritou ele, tirando três livros do pacote. Um era o livro velho que havia sido entregue a Adélia, e os outros dois eram novos, com capas pretas e um dragão pintado em dourado. Ele me entregou um e disse:
— Este aqui é seu!
Peguei o livro, que era um pouco pesado para mim. O dragão na capa parecia uma pintura em tela. Ao abri-lo, vi que estava todo na língua do dragão: regras gramaticais, tradução de palavras e, no final, a história de Thalúrea.
Dicionário da língua do Dragão
— Acho que isso vai ser de grande ajuda, não é? — perguntou Sorin a Mira.
— Com certeza, um dicionário na língua do dragão será de grande ajuda — respondeu Mira.
— Por quê? — perguntei.
— Então, aqui vai sua primeira aula, garoto. A língua do dragão permite que um mago reduza ou elimine o ditado de um encantamento, aumentando a velocidade para conjurar magias. E, se um mago recitar um encantamento inteiro na língua do dragão, o efeito da magia aumenta.
— Porém, é uma língua muito difícil de dominar. Um erro na entoação, e o mago conjurador pode se ferir.
— Além disso, é impossível mentir enquanto se fala na língua do dragão. Por isso, decretos reais e leis do reino são escritos nela.
A parte da mentira eu já sabia; o resto foi tudo novidade! O uso dela em encantamentos é interessante.
Luna levou Mira para ver a casa e mostrar seu quarto. Ao contrário de Adélia, que olhava a casa como se estivesse entrando num esgoto, Mira agia com naturalidade e pareceu gostar do lugar.
Após arrumar as coisas em seu quarto, fomos para a sala de treino, com Luna observando da porta. A sala fora modificada para servir aos treinos de magia e técnicas de espada. Um círculo mágico que ocupava o chão inteiro foi desenhado, assim como outro no teto.
Mira olhou para mim e perguntou:
— Estou com uma dúvida. Por que você está girando seu círculo mágico desde a hora que cheguei?
— Bom! — fiz uma pausa para tentar explicar. — Desde que aprendi a girar o círculo, venho tentando mantê-lo girando o tempo todo.
— Você o quê? — ela gritou.
— No começo, eu desmaiava depois de um tempo, quando ficava muito cansado. Mas, depois, consegui aguentar por um bom tempo — respondi.
— Você o quê? — dessa vez, foi Luna quem gritou.
— Por isso eu encontrava você dormindo em todo canto nos últimos meses — disse Luna.
— Você está proibido de fazer isso — falou Mira.
— Pode ficar sossegada. Cada giro que ele der nessa coisa vai ser um giro que eu vou dar na orelha dele se ele desobedecer — ameaçou Luna.
— Quando você gira o círculo mágico interno, está usando sua mana para isso. Quando ela acaba, sua energia vital toma o lugar da mana. Por isso você desmaiava. Isso é muito perigoso. Você poderia ter morrido — explicou Mira.
— Por que meninos são tão sem noção? E Sorin não notou nada de estranho? — gritou Luna.
— Senhora Luna, se me lembro bem, Sir Sorin nasceu no reino de Wiccaria, não é?
— S-sim, ele nasceu lá — respondeu Luna.
— Sem querer defender ninguém, mas… lá eles criam magos assim. Desse modo, o mar de mana se desenvolve mais rápido, mas o perigo de morte é alto. Ele deve ter achado normal Randolph tentar isso, já que passou pela mesma coisa. Estames são estames, acima de tudo. Duvido que esse perigo tenha passado pela cabeça dele.
— Por que você o está defendendo? — perguntou Luna.
— Apenas estou dizendo o que sei sobre o assunto. Fique à vontade para repreendê-lo — respondeu Mira.
— Bem, os magos se ajudam, não é? — perguntou Luna.
— Vamos começar? — disse Mira, de forma evasiva.
A sala de treino estava bem diferente desde a última vez que entrei. Havia, no mínimo, 20 círculos mágicos desenhados em todas as paredes. Em cada canto, uma pedra escura foi posicionada. O madeiramento também estava diferente; dava para ver que a sala estava bem reforçada. Não sei como ela aguentava a aura de Luna contida sem que algo escapasse.
Uma pedra do tamanho de um pufe estava no centro da sala. Minha mestra sentou-se nela e, mesmo estando de saia, deu para ver que ela cruzou a perna. A pedra começou a levitar com ela em cima e se afastou para o canto da sala.
— Gire seu círculo e recite minhas palavras — disse Mira.
— Ó calor que aquece as manhãs de verão, que esquenta a caça do caçador e o pão daqueles que têm fome, o fogo das montanhas que desce como chuva incandescente e o fogo das fornalhas que forja as melhores armas deste mundo, eu lhe peço e lhe rogo: torne-se meu calor, minha vida e meu fogo. Reúna-se na palma da minha mão.
— Bola de fogo!
Repeti o encantamento como ela pediu. Uma bola de fogo do tamanho de uma bola de futebol se formou na palma da minha mão. Senti a mana sendo sugada de mim como o ar gasto num sopro. Ao apontar instintivamente a mão acesa pela chama e dizer “Bola de fogo” novamente, a bola acelerou até a parede, mas desapareceu antes de bater. Pude ouvir as pedras vibrando; os círculos mágicos a cancelaram antes que fizesse estrago.
Minha primeira magia foi lançada.
Luna bateu palmas, e Mira pareceu satisfeita.
— Agora vamos testar outros elementos!
E assim foi: céu, água e terra.
Após soltar vários feitiços, meu corpo ficou mole, e eu me sentia cansado.
— Por hoje, é isso! — falou Mira.
— Amanhã vamos começar as aulas. Pode ir brincar! — completou.
Soltando uma gargalhada, Luna disse:
— Brincar? Randy é um velho. Provavelmente vai ficar na biblioteca lendo alguma coisa!
— Então você gosta de ler? — perguntou Mira, sem esperar uma resposta.
Ela saiu da sala voando em sua pedra e voltou com um livro.
— Então leia este. Amanhã vou perguntar sobre ele na aula.
Agradeci e corri, animado. Não era um livro muito grande; talvez eu conseguisse terminá-lo antes de o sol se pôr. Sentei-me embaixo de uma árvore no quintal e comecei a ler.
De tempos em tempos, podia ver Mira me sondando pela janela de seu quarto, verificando se eu ainda estava lendo. Ela passou o resto do dia arrumando as coisas que trouxera.
O livro explorava a magia em todos os seus matizes, desde os elementos fundamentais até as vertentes misteriosas. Entre eles estavam os quatro elementos conhecidos e a sombria magia das trevas, frequentemente associada a seres malignos como lichs e mortos-vivos de alta linhagem. Em contraste, a magia sagrada era uma dádiva da deusa do ciclo, Cicélia, reservada àqueles que fizessem um juramento divino. Resumindo, era um livro muito interessante. Se pudesse, leria até a noite, mas minha mãe está me chamando.
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