CONTOS DE THALÚREA: A REENCARNAÇÃO DE UM DEPRESSIVO! CAPÍTULO 18

 


Capítulo 18


Novo aluno da classe 7



Às 8 em ponto, cheguei à Classe 7. Ainda que aos trancos e barrancos, consegui encontrar a sala, onde a professora — a mesma que havia conduzido meu teste no dia anterior — me aguardava em frente à porta.

Seu nome era Diana, e ela se apresentou como professora de Magias de Ataque, Uso Geral de Magia e História da Magia. Parecia mais jovem do que eu lembrava; talvez a falta de luz na sala de teste tivesse me enganado. As aulas de Aprimoramento e Invocação seriam ministradas por outras professoras e ocorreriam no segundo período.

Ela me pediu que aguardasse antes de entrar.

Diana pediu silêncio à sala, que se perdia em conversas e risadas. Após um minuto, quando todas pararam de falar, ela prosseguiu:

— Hoje vou apresentar um novo aluno. Espero que o recebam com educação. Por favor, entre.

Entrei e me deparei com mais de cinquenta meninas.

— Bom dia! Me chamo Randolph — me apresentei com um sorriso. — Prazer em conhecê-las!

Muitos sorrisos e cochichos preencheram a sala.

Diana indicou o lugar onde eu deveria sentar.

— Por favor, Sir Rénard, sente-se naquele lugar vazio à esquerda.

A sala era imensa, como a maioria dos ambientes da escola. Um grande retângulo de cristal ficava atrás da mesa da professora, e as carteiras eram dispostas em formato de anfiteatro, com uma escadaria dividindo o espaço em duas partes.

— Sim, professora! — Subi as escadas até o último nível da sala e me acomodei no canto esquerdo, junto a uma janela que oferecia vista para o campo de treinamento da escola.

— A aula de hoje vai continuar abordando o controle mágico — anunciou a professora.

Controle mágico, pensei. Algo que aprendi com a mestra Mira.

À medida que a aula prosseguia, percebi que o conteúdo não era tão difícil de acompanhar, pelo menos por enquanto. Aparentemente, minha turma havia sido escolhida com isso em mente. Olhando ao redor, não senti nada de especial em relação às garotas. Pelo menos até agora!

Mas, com o decorrer das aulas, fui notando algo estranho. Não chamaria de assédio, mas quase: as meninas se aproximavam demais para falar comigo. Palavras sussurradas ao ouvido e falas quase roçando os lábios eram comuns e desconfortantes. Não sou homossexual, mas isso era, no mínimo, estranho.

Limite de espaço pessoal não existia para elas. Sempre que podiam, faziam contato físico. O choque de uma vida sem muito contato com o sexo oposto se mostrou uma grande barreira aqui. Nunca soube o que fazer ou dizer em uma conversa com uma menina em minha vida passada.

Não que eu me incomodasse, mas era estranho. Teria de me acostumar com isso. Nesse mundo, há poucos homens, e a chance de interação com o sexo oposto deve ser rara para elas.

O problema é que nunca aprendi a ignorar alguém. Desde minha vida passada, acho que não quero ser ignorado, então não consigo ignorar os outros tão facilmente. No contexto em que estou agora, porém, isso é um inferno. Todas com quem interajo querem atenção. Não sei o que fazer. Será que vou me acostumar com isso algum dia? Parece irreal por algum motivo.

Uma hora antes do almoço, a classe desceu até a área de treino. Pelo que foi dito, duelos mágicos eram realizados semanalmente em sala para que os alunos aplicassem os ensinamentos em situações de combate.

Algumas duplas eram escolhidas pela professora, enquanto outras se formavam entre os próprios alunos. Frases como “Dessa vez você vai ver” e “Ponha-se no seu lugar, plebeia” ecoavam repetidamente.

A área de treino lembrava um campo de atletismo, com vários círculos desenhados na grama e dois círculos menores afastados, próximos ao centro. Nas duplas formadas, as alunas se posicionaram nos círculos para iniciar os duelos. Esses confrontos consistiam apenas em defesa e ataque: um mago atacava, e o outro defendia, sem permitir contra-ataques. Os círculos mágicos ofereciam certa proteção.

A professora ergueu uma barreira de cura na arena, e as duplas escolhidas foram concluindo seus duelos. Foi fascinante assistir, pois consegui perceber claramente as personalidades das meninas: as encrenqueiras, as tímidas, as poderosas, as soberbas, entre outras.

Tentei ficar por último, pois não queria chamar mais atenção do que já estava chamando, sendo o único estame da sala.

No entanto, chegou minha vez.

— Sir Rénard, por favor, dirija-se ao círculo esquerdo! — chamou a professora.

Fui andando de cabeça baixa, esperando que tudo aquilo acabasse logo. Nunca me dei bem em situações assim; toda vez que ficava na frente da sala de aula, era um desespero. Nunca soube como agir e sempre acabava evitando essas situações ao máximo. Quase sempre, tomava alguma atitude bizarra ou estranha que afastava os outros.

Quando ergui os olhos, vi que a professora Diana estava indo para o outro círculo. Então, ela seria minha adversária nesse duelo.

— Fique tranquilo, o primeiro duelo da sala é sempre contra o instrutor! Assim, posso te avaliar com mais cuidado. Vou começar atacando, então se defenda da melhor forma que souber.

Ela disse isso, mas a magia que estava entoando era de segundo círculo. Todos os duelos anteriores usavam magias de primeiro círculo como base, por isso eu não estava tão nervoso. Mas agora, Diana entoava uma magia de fogo de segundo círculo, Fogo Ascendente. A melhor defesa seria uma magia de água. Porém, achei que só isso não seria suficiente contra uma instrutora da escola de magia. Sorín sempre dizia que a melhor arma de um mago era sua humildade.

Invoquei uma parede de água para me defender e a reforcei com mais uma camada ao meu redor para evitar ser atingido. A água surgiu, formando uma bolha à minha volta, com espaço para respirar.

A professora não avisou o disparo. Sua magia atingiu a prisão de água com uma força enorme, fervendo-a e levantando uma grande nuvem de vapor. Ainda assim, a parede fez seu trabalho, me protegendo do dano.

— Ótimo, agora é sua vez de atacar! — gritou a professora, já rodeada de chamas. Seus óculos refletiam o fogo, dando a impressão de que seus olhos queimavam.

Pensei rapidamente em qual magia usar contra ela. Fold. Invoquei uma rocha, comprimi-a e moldei a runa mágica, iniciando seu giro.

Diana pressionou os joelhos e soltou um sorriso ao perceber que aquela magia era a Bala Mágica, uma assinatura de Mira Aelar.

— Faz algum tempo que não me defendo de uma dessas, garoto. Venha com tudo!

Sem dar atenção a ela para não perder a concentração, continuei a magia.

— Kiadás!

A Bala voou em direção a Diana, que exclamou:

— Barragem Explosiva!  

Uma parede de explosões surgiu à sua frente, destruindo a bala de pedra que eu havia atirado. O vento da explosão atingiu toda a sala. Algumas meninas gritaram, com olhos arregalados, mãos na boca, saias levantando e cochichos ecoando pela classe.

Diana me deu os parabéns pelo duelo, dizendo que foi digno de um aluno de Andor.

— Por isso as duas querem te treinar — afirmou, enquanto a poeira das explosões se dissipava.

— Duas?

— Sim, seu segundo período será com as duas mentoras. Se Mira ainda desse aula nesta escola, ela seria sua mentora sem ressalvas. Como ela não está mais aqui, duas mentoras foram mais vocais em guiar você. Não conseguimos chegar a um acordo sobre qual seria mais adequada, então ambas serão suas mentoras a partir de hoje. Elas são duas das três estrelas de Andor, junto com Mira Aelar, que alcançaram o sexto círculo antes dos 30 anos. — Oh, isso mesmo, garoto! Magas de toda Amicítia se matariam por uma chance dessas. Não desperdice.

— Entendido, professora.

— Mira te ensinou bem. Acredito que você conseguiu acompanhar o conteúdo da aula de hoje?

— Certamente!

— Perfeito, então. Classe dispensada!  

Gritos de felicidade ecoaram na área de treino, marcando o fim das primeiras aulas do primeiro período.

Não compreendi completamente por que Diana me pressionou tanto durante o duelo. Eu não queria atrair mais atenção do que já estava atraindo. Comecei a seguir as meninas até o refeitório, onde elas me mostraram as salas e os jardins pelo caminho. Passamos pela enorme biblioteca da escola, mas não me permitiram entrar; fui puxado pelo braço antes disso. Parece que, nesse primeiro dia, tive mais contato físico com mulheres do que em toda minha vida passada.

Chegamos ao refeitório, e o aroma de carne assada era irresistível. Enormes mesas de madeira estavam dispostas pelo salão lotado, com uma fila quilométrica para pegar comida. Logo, fui arrastado para uma mesa, e uma bandeja apareceu do nada, repleta de batatas cozidas, carnes e outros vegetais. Agradeci pela atenção, embora não soubesse exatamente a quem agradecer.

Enquanto todas as meninas da minha mesa me observavam atentamente ao colocar a colher na boca, ouvi expressões como “Ai, que fofo ele comendo!” e “Ai, que fofo ele mastigando!”.

Isso me irritou profundamente! A comida era deliciosa, mas nunca fui fã de ser observado enquanto comia. A situação foi bastante constrangedora. Ao olhar ao redor, percebi vários garotos na mesma situação que eu. No entanto, eles pareciam acostumados; alguns até recebiam comida na boca.

Após terminar a refeição, tentei iniciar uma conversa com as meninas. Elas me bombardearam com perguntas sobre tudo: de onde eu vim, como cheguei ali, qual era o propósito da minha vinda e até sobre minha mãe. Havia até uma garota anotando tudo o que eu dizia. Ficaram surpresas quando mencionei que conhecia meu pai e ainda mais chocadas ao revelar que meus pais eram casados.

Eu já sabia que casamentos entre homens e mulheres eram raros, mas não imaginava que fossem tão incomuns assim. A expressão delas misturava curiosidade, incredulidade e surpresa diante da minha história.

Após o recreio, fui conduzido por Gratcia até a sala onde conheceria minha primeira mentora. A sala ficava próxima à área de treino, mas no sentido oposto à Classe 7. Diferente da minha primeira sala, esta era térrea.

Ao entrar, notei que parecia um dojo ou algo assim. Tatames cobriam o chão, círculos mágicos adornavam as paredes e o teto, todos em tons de branco. Uma mulher estava sentada em posição de seiza.

— Tire os sapatos! — disse ela com voz áspera.

— Deixo Sir Rénard aos seus cuidados — falou Gratcia antes de sair. A mulher apenas acenou.

— Fiquei sabendo que seu duelo foi interessante.

— Acho que sim.

— Se aproxime. Está com medo?

— N-não! — Mas ela era muito intimidadora.

Olhos roxos, lábios bonitos e cabelos azulados — o tipo de cores que só vi neste mundo. Os cabelos estavam presos com uma corda de couro, e ela vestia um quimono branco com um hakama preto.

— Me chamo Reina. Fui colega de sala da sua mestra Mira!

— É um prazer conhecê-la.

— Serei sua mentora em magia de aprimoramento. Não espero nada menos que total dedicação aos ensinamentos que vou te passar. Se conseguiu dominar a balinha de Mira, acho que pode dominar uma ou duas magias de minha autoria.

— Espero que sim! Estou aos seus cuidados! — respondi, totalmente sem graça.

Elas têm uma grande rivalidade. Bom, não tenho nada a ver com isso! Estou aqui para aprender!

Ela se levantou e sentou ao meu lado, apalpando meus braços e pernas sem cerimônia.

— Você tem um corpo bom. Treina regularmente?

— Sim, a mestra Mira e meus pais sempre me treinaram desde pequeno.  

Ela riu.

— Mas você ainda é pequeno de qualquer modo. Bom, você é filho de heróis, não é?

— Ah, acho que sim. Meus pais nunca se gabaram disso ou me contaram muito sobre.

— Eles são humildes, como heróis devem ser. Pois bem, me mostre o treino que costuma fazer.

Após mostrá-lo, Reina me apresentou outros tipos de treino de força e formas de respirar.

— O que vou te ensinar nas minhas aulas é um modo de usar seu corpo como arma. Porém, não pode ser confundido com aura, pois...  

Reina apontou para que eu respondesse.

— Magos não possuem aura!

— Isso mesmo. Magos só podem manifestar a mana em seu corpo, então usamos a mana para fortalecê-lo.

— Ela é diferente da aura. A aura age diretamente no corpo, tornando o usuário mais forte, fortalecendo-o de forma direta.

— A mana age de forma diferente. Você pode usar a mana da terra para endurecer os ossos ou a mana do céu para fortalecer os músculos, e por aí vai.

— Também vou te ensinar o Magii!

— Magii?

— Isso! Magii, ou magiijutsu, uma forma de arte marcial para magos.

Reina revelou seu estilo de ensino, destacando a importância de usar a mana para fortalecer o corpo. A aula incluiu exercícios físicos intensos, demonstrando como canalizar a mana para melhorar resistência e força. O Magii, a arte marcial para magos, também foi introduzido, oferecendo uma visão de como me defender em situações desafiadoras.

Reina me pediu para ficar em várias posições enquanto corrigia minha postura e verificava meu corpo para conferir as conexões de mana. Ela disse que essas posições já eram um uso rudimentar do Magii. Depois, me passou um treinamento de exercícios para manter a boa forma. Assim, a aula se estendeu até tarde.

A noite já começava a cair quando terminamos. Gratcia veio advertir a professora pelo horário.

— Nem vi a hora passar! Me perdoe!

— Eu também não vi, mestra! Muito obrigado pela aula!  

Assim, me despedi de Reina.

Na manhã seguinte, meu corpo estava em frangalhos pelo esforço da aula anterior.

O Segundo Dia de Aula

O segundo dia foi mais sossegado. Como eu já sabia o que fazer, foi bem mais fácil para mim.

Acordei cedo para realizar os exercícios que Reina me passou. Como a escola é enorme e seus jardins são imensos, foi fácil encontrar um lugar sem ninguém me observando. Terminei tudo em menos de uma hora. Apesar das dores do dia anterior, com o tempo sobrando, pude esperar os sois subirem antes de voltar para meu alojamento.

Em minha vida passada, nunca fui de fazer exercícios. Quer dizer, até fui por um tempo: fiquei forte e chamei a atenção de uma menina que me traiu depois. Não sei se foi o desgosto da traição, mas acabei perdendo a vontade de me exercitar regularmente e terminei gordo e sem saúde. Nesta vida, queria fazer diferente.

Depois de um banho, desci para a cozinha.

A cozinha estava agitada quando cheguei, com os sons de panelas, risadas e conversas animadas. Os meninos estavam reunidos, cada um cuidando de seu café da manhã de maneira peculiar.

— Olha só quem decidiu se juntar a nós! — brincou um dos rapazes ao me ver entrar.

Sorri, cumprimentando-os enquanto buscava algo para comer. A variedade de alimentos era surpreendente. Peguei frutas, ovos e uma fatia de pão.

— Você parece bem animado hoje — comentou outro rapaz, observando meu prato.

— É, estou tentando manter uma rotina saudável. Comecei o dia com exercícios — expliquei, dando uma mordida no pão.

Os outros me olharam surpresos. Parecia que a ideia de um deles se exercitar não era comum.

— Exercícios logo cedo? Os deuses me livrem! — brincou um terceiro.

— Quem sabe? Talvez eu esteja tentando criar um novo hábito — respondi, pegando uma maçã.

Enquanto saboreava o café da manhã, aproveitei para conversar com os meninos. Eles compartilharam histórias sobre as primeiras aulas, as dificuldades e as peculiaridades das garotas de Andor. A atmosfera era descontraída e infantil, e eu me senti mais integrado ao grupo.

Após o café, me despedi deles e me encaminhei para o segundo dia de aulas.

Fui para a Classe 7, tentando chegar na hora certa para evitar o assédio das meninas.

A aula começou, e o conteúdo parecia um pouco mais avançado que o do dia anterior. Diana abordou magias de segundo círculo, e a complexidade das informações aumentou. Ainda assim, eu estava determinado a acompanhar o ritmo.

Durante a pausa para o intervalo, algumas garotas se aproximaram, lembrando-me do dia anterior. A curiosidade delas parecia não ter limites, com perguntas sobre minha experiência no primeiro duelo e como eu me sentia sendo o único rapaz na turma.

No segundo período, Gratcia já me esperava no refeitório para me levar até a segunda mentora.

Dessa vez, fomos para a parte de trás da escola, até um salão grande com enormes círculos mágicos desenhados no chão. Alguns se sobrepunham, outros estavam apagados, e havia até círculos incompletos ou recém-feitos.

No fundo do salão, estava a segunda mentora. Seus cabelos longos e ruivos estavam bagunçados. Ela desenhava um novo círculo mágico e nem percebeu nossa chegada. Vestia um avental que já fora branco, com mangas que arrastavam no chão. Ao nos notar, olhou para mim ainda deitada no chão. Tinha lindos olhos pretos e uma expressão animada.

— Seja bem-vindo, garoto! — disse, levantando com um saltinho e batendo as mangas, que levantaram poeira.

— Me chamo Ariadne. Serei sua mentora e te ensinarei magia de invocação. Está preparado?

— Sim! — E não estava mentindo. Estava muito animado para aprender magia de invocação.

— Mas antes, vamos conversar um pouco!

Ariadne parou de desenhar o círculo e pegou meu braço, me puxando para o fundo da sala. Gratcia se despediu, mas a professora apenas acenou com a mão. Perto da parede, havia um alaúde encostado, que ela pegou antes de nos sentarmos no chão.

O chão estava frio, úmido e muito sujo devido aos rabiscos espalhados, mas isso não me incomodou. Colocando o instrumento no colo, ela começou a dedilhar sem uma melodia específica.

E começou a conversar comigo casualmente, perguntando sobre minha família, de onde vim, se estava gostando da escola. Mas, quando passou a perguntar sobre meu futuro e o que eu esperava dele, a melodia mudou. Era alegre e triste ao mesmo tempo.

Respondi que não sabia o que esperar do futuro, mas que estava ansioso por ele.

— Entendi “ansioso” — disse ela com um longo suspiro, que parecia se misturar ao ar ao redor, tornando-o mais pesado. Havia algo ali, algo em volta de nós. Eu podia sentir. Não era mal, nem bom; apenas era.

— Então, garoto, você não é estático como a terra, nem flui como um rio. Não é explosivo como o fogo, nem inconstante como o vento. Tem uma luz forte, mas não sei se é duradoura. E essa escuridão... é gigantesca. Tristeza? Que tristeza um estame da sua idade possuiria para uma escuridão desse tamanho?

— N... não sei! — Mesmo sabendo de onde ela vinha. Na verdade, achei que a tivesse deixado em minha vida passada. Era a tristeza que me engolira! Só a lembrança dela já me deixava inquieto.

— Não precisa responder pra mim. Parece que alguém veio te visitar!

Uma escuridão enorme tomou a sala, e nada além de mim e Ariadne podia ser visto. O chão sumiu. Ao olhar para o alto, vi o dono dela.

— Ora, ora, um elemental primordial! Há quanto tempo não vejo um desses? — Ariadne ria como criança enquanto continuava a tocar.

Era um lobo gigantesco, tão grande que éramos apenas formigas perto de sua presença. Com um uivo que ecoou na escuridão, ele desapareceu, sugando toda aquela escuridão com ele.

Algo em meu coração se aquietou. A lembrança da tristeza de momentos atrás ainda existia, mas, junto com ela, havia uma frase em minha mente:

— Deixe-a comigo. Eu vou curá-la para você, meu amigo!

Lágrimas escorreram dos meus olhos. Da escuridão que outrora preenchia a sala, uma pequena bola preta e peluda surgiu. Ela flutuou até meu colo e descansou em minhas mãos.

Era um lobo minúsculo, dormindo silenciosamente. Sua barriguinha de filhote era muito fofa — a fofura encarnada. Sentia uma grande presença mágica nele.

— Então você vai ficar com minha tristeza, hein? — Ao colocar minha mão em seu focinho, ele pousou a patinha, como se apoiasse meus dedos. Um cansaço enorme caiu sobre meus ombros. Podia dormir ali no chão sujo mesmo, não me importaria.

Após um longo silêncio, Ariadne voltou a falar.

— Um elemental primordial vai ficar com você pelo resto da sua vida. Ele vai te ajudar em seu crescimento e crescer junto de ti, menino. Este, aliás, é um elemental das trevas.

— Um elemental das trevas? Quer dizer que ele é maligno? Mas ele é tão fofo!  

Ela riu com minha pergunta.

— Ele é fofo mesmo! Mas um elemental das trevas nem sempre é maligno. É verdade que, atualmente, a magia das trevas é usada para fins malignos, mas o elemento das trevas está neste mundo desde seu princípio.

— Veja, este elemental é um primordial, ou seja, ele é o resultado da energia das trevas usada na concepção desse mundo. Foi assim que as primeiras criaturas divinas nasceram. Eram chamadas de semideuses em sua era.

— Este, em particular, já teve muitos nomes: Fenrir, Hati, Bleizig. Mas agora, na língua dos dragões, ele se chama Farkas!

— Incrível! Farkas...

— Incrível, né? Mas não esperava isso em sua primeira aula. Você deve estar exausto depois de ter invocado isso.

— Invocado? Eu só fiquei sentado.

— Você acabou de fazer um contrato com um elemental primordial. As questões do contrato, só você e sua invocação sabem.

— Contrato? — Pensei. Ele apareceu quando comecei a pensar no meu futuro. Que tipo de contrato firmamos? Ela disse que ele não é maligno.

— O objetivo deste tipo de feitiço é apenas descobrir que tipo de invocações você é capaz de fazer.

— Mas acho que vai ficar para amanhã.  

Ao dizer isso, Ariadne parou de tocar o alaúde e se levantou, me oferecendo a mão para levantar. De fato, eu quase não consegui.

— Vamos levá-lo ao seu alojamento. Descanse por hoje.

Gratcia e Ariadne me ajudaram a voltar. Após me deixarem na cama, desabei, com meu novo companheiro dormindo ao meu lado.



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