CONTOS DE THALÚREA: A REENCARNAÇÃO DE UM DEPRESSIVO! CAPÍTULO 19
Capítulo 19
Reunião na sede da unidade de controle!
Adélia está sentada em sua cadeira, que há horas deixou de ser confortável. Em frente à sua mesa abarrotada de papéis — pedidos da nobreza, fichas de estames de todo o reino, solicitações de casamento e primeiras noites para serem analisados —, ela suspira.
Brea entra rapidamente, fechando a porta e entregando uma caneca de café quente. Adélia tira os óculos e aperta os olhos com as mãos.
— Muito obrigada, Brea. Estava precisando mesmo. Podemos começar?
— Sim, podemos. Só quero reportar antes que a carta que a senhora pediu deve estar chegando logo aos Rénard.
— Pediu para Marika escrever?
— Sim, como a senhora ordenou.
— Perfeito. Assim, Luna não virá para a capital assim que perceber que foi Marika quem a enviou. Nós três estudamos juntas, mas ela tem uma relação melhor com Marika do que comigo. Deixemos isso de lado. Pode dar continuidade ao relatório.
— Estame Randolph Rénard está progredindo muito bem na Escola de Magia de Andor. Logo em sua chegada, pedimos que sua professora, Diana, o pressionasse no primeiro combate, o que afugentou as garotas com histórico de bullying. Duas professoras disputaram para serem suas tutoras, e ele acabou ficando com ambas.
Adélia solta uma pequena gargalhada.
— Está brincando? Quem são?
— Reina e Ariadne!
— Ah, só pode ser brincadeira! Duas das três grandes. Esse garoto tem muita sorte! Bom, eu não diria sorte.
— Posso perguntar uma coisa, senhora? — Brea mudou de tom.
— Pode, Brea. Responderei sem rodeios, mas só desta vez.
— Quando vi todo o cuidado que a unidade está tendo com este estame, não pude deixar de ficar intrigada. Sei que, como quadra elementar, ele pode realizar inúmeras magias, mas estames geralmente, quando se destacam, param no quarto círculo. Sem falar que, quando chegam à idade dos jardins, er... Não quero criticar as atitudes da senhora, mas não seria um gasto de energia desnecessário? Tudo isso? E essas tutoras? Não seria mais sábio colocá-las para ensinar alguma pistilo mais qualificada?
— Você falou francamente mesmo.
— Desculpe-me, senhora.
— Não, imagina! Eu dei permissão.
Adélia pede um momento e toma um grande gole do café.
— Você estava presente quando fizemos o teste de aptidão no garoto, certo?
— Sim, senhora. Lembra da luminosidade do círculo?
— Sim, era muito brilhante, mas isso não quer dizer...
— Exatamente, brilhante. Deixe-me perguntar uma coisa: você sabe quais são os usos de magia das trevas liberados em nosso reino?
— Magia das coleiras de controle e de escravização, com ordem do reino.
— Exatamente. Mas há mais uma que você, como agente do estame Randolph Rénard, por decisão de suas majestades, agora pode saber.
Brea se ajeita na cadeira, atenta à afirmação de Adélia.
— Uma magia das trevas chamada Oráculo da Existência. Ela é capaz de mostrar o potencial de crescimento de um indivíduo até o fim de sua vida! Claro que, para evitar a eugenia, seu uso é restrito em estames e feito de maneira controlada. O potencial dos estames, como você mesma pontuou, está caindo, e poucos passam do quarto nível, seja em octogramas ou círculos mágicos. Porém, o potencial de Randolph é o mesmo que o da mestra da torre mágica atual possui — ou até maior.
— Igual à mestra? O oitavo círculo?
— Correto. E uma coisa que notei quando mandamos Mira ensinar o garoto é que magas com grande dom mágico conseguem sentir esse potencial. O reino não se envolveu na escolha das tutoras; elas devem ter optado por ensiná-lo por causa disso. Mira provavelmente ensinou a Bala Mágica a ele pelo mesmo motivo.
— Entendo. Oitavo círculo... Se isso acontecer, ele será o primeiro estame a alcançar tal feito.
— Por isso precisamos moldá-lo para que seu potencial seja alcançado. Entende o que digo?
— Sim. Apesar de ser difícil, eu mesma não consigo imaginar como. Aprendemos na academia a controlá-los, não a encorajá-los.
— Tenho que concordar, é verdade. Aprendemos e ensinamos a impor controle como prioridade.
— Mas, se ele ficar tão poderoso, como poderemos controlá-lo?
— Você é bem perspicaz, hein? Eu disse que vamos ajudá-lo a alcançar seu potencial, não que ele ficará livre e solto! A coleira de controle fará seu papel e, se o pior acontecer, prepararemos uma “carrasca” para ele. Só não se preocupe com isso, entendeu?
— Entendi, senhora.
Adélia olhou para Brea com seriedade.
— Se Andrassi soubesse do potencial do garoto, ele teria sido sequestrado ou morto no momento do ataque. Aquele ataque não foi premeditado com antecedência; se fosse, não estaríamos tendo esta conversa.
— Então foi Andrassi mesmo? Como sabiam que iríamos trazê-lo para a capital? Como o reino agirá?
— Quanto a saberem da mudança para a capital, imagino que alguma espiã de outro reino esteja envolvida. Não vejo Andrassi fazendo espionagem; elas são conhecidas como grandes caçadoras e guerreiras. Não podemos fazer nada por enquanto. Como sempre, não temos prisioneiras. As guerreiras capturadas tomaram veneno antes de serem interrogadas. Andrassi e suas fiéis são um porre. Mesmo se as culpássemos, provavelmente alegariam que estavam usando a antiga lei de saque de estames. É um costume arcaico, mas, de fato, o armistício entre Amicítia e Andrassi mantém essa lei em vigor.
— Entendo. Então estamos de mãos atadas?
— Sim e não. O ataque foi um fracasso. O garoto ficará em segurança aqui na capital, e teremos cuidado na próxima vez que o movermos. Se ele atingir seu potencial, poderemos desequilibrar a balança de poder entre Andrassi e Amicítia. Temos quatro pilares contra quatro domadoras. Se Randolph se tornar o quinto pilar, a chance de Andrassi parar com suas gracinhas aumenta.
— Mas, se elas souberem disso, não há o risco de atacarem enquanto suas forças ainda estão equilibradas com as nossas?
— Esconder o garoto por muito tempo será impossível durante seu crescimento. Podemos apenas protegê-lo. Uma das maneiras é manter o que foi dito aqui agora...
— Sim, senhora. Nada sairá desta sala.
— Muito bem! Continuemos com o relatório. Quero saber como o garoto está.
Assim, a reunião se encerrou tarde da noite. Adélia e Brea saíram da sala, deixando para trás uma atmosfera de tensão e segredos. O destino de Randolph Rénard estava intricadamente entrelaçado com forças mágicas, políticas e sombras que se moviam nos bastidores do reino de Amicítia.
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