Contos de Thalúrea: a Reencarnação de um depressivo! capítulo 4
Capítulo 4
O teste
Fiz dois anos, dois anos desde que reencarnei neste mundo com as lembranças da minha vida anterior.
Com isso, a inspetora mandou uma carta marcando meu teste de aptidão.
De acordo com Mara, esse teste era comum aos dois anos, pois os canais de mana das crianças começavam a se formar, e assim podia-se identificar qual tipo de utilização seria melhor para cada uma.
Poderia demorar alguns meses se eu fosse menina, mas, como eu era menino, isso seria feito com prioridade.
Nessa última parte, eu fiquei boiando e perguntei o porquê disso, mas Mara disse para eu perguntar aos meus pais mais tarde!
Dias depois, a inspetora chegou com duas assistentes. Elas se aproximaram da entrada, e, logo que vi, já gritei:
— Tem gente lá fora!
Luna desceu as escadas com um olhar sério, a passos largos. Eu, por outro lado, estava radiante. Queria muito saber sobre meu futuro. Guerreiro ou mago? Cavaleiro Randy ou Grande Mago Randy?
Na verdade, nunca me senti tão criança como neste momento, e isso era incrível.
Podia-se ver a carruagem esperando atrás delas, com a poeira da estrada ainda se assentando.
A inspetora era a mesma de dois anos atrás. Ela me olhou com um olhar sério.
— Você cresceu bastante — disse, tentando parecer simpática.
— Está virando um lindo estame. Mas, com os pais que você tem, isso não é surpresa nenhuma.
Luna parou atrás de mim com os braços cruzados, como quem diz: “Vamos logo!”
Sorin não estava em casa hoje. Ele estava fora há dois dias, e Luna já vinha com aquela cara séria há um tempo.
— Quanto tempo, Adélia. Como está a capital? — perguntou Luna.
— Está no mesmo lugar — respondeu Adélia. Pareceu que ela tentava ser engraçada, mas a piada não cativou Luna.
Fechando a cara, Adélia continuou:
— Vocês é que vieram morar no fim do mundo. Estão se escondendo de alguma coisa?
— Quem sabe? — respondeu Luna, dando de ombros.
— Vamos lá, Luna, você sabe que isso é um procedimento padrão!
— Quem diria que você teria um estame? Depois de todas as suas conquistas, ainda ganhou mais esta. Além disso, já escolheu sua recompensa?
Essas frases me deixaram intrigado, e falei alto:
— Conquistas?
Adélia virou para mim e respondeu:
— Sua mãe, meu querido, é uma guerreira de sexto nível. Ela era conhecida como a Grande Berserker da Morte na capital. Ninguém conseguia vencê-la, exceto um mestre de espadas. E, sinceramente, acho que ela pode chegar ao sétimo estágio, mesmo morando nesse fim de mundo!
— Uau! — soltei. Não imaginava que Luna era tão incrível. Mas eu não podia entrar no quarto de treinamento enquanto ela praticava, então ela não podia me culpar por não saber!
Berserker da Morte? O quão feroz era Luna para merecer um nome assim? Melhor evitar deixá-la brava comigo!
A última frase de Adélia parecia tentar ganhar alguma simpatia de Luna:
— Se bem que, agora, como mãe de um estame, ela não precisa mais se preocupar com isso — completou Adélia.
E essa última frase enterrou de vez as tentativas de Adélia.
— Então, Adélia! — proferiu Luna.
Adélia entendeu algo em silêncio e disse:
— Vamos começar!
Desta vez, ela trouxe outros equipamentos. Alguns eu conhecia, outros nem tanto: panos com círculos desenhados, pedras e cristais, rolos de pergaminhos.
Tudo foi espalhado pela sala, fazendo uma bagunça que arrancou vários sons de reprovação de Mara.
Pediram que eu me despisse e mediram cada parte do meu corpo com uma fita branca que se esticava de acordo com o comprimento necessário. Tudo era minuciosamente anotado em um caderno, usando uma pena de metal. Também coletaram uma porção do meu sangue com um cristal afiado e transparente, fazendo um furo no meu dedão esquerdo. O sangue que saiu foi absorvido pelo cristal até ele ficar todo vermelho.
Depois disso, o cristal foi colocado em uma caixa de madeira com todo o cuidado do mundo.
Em seguida, desenharam um círculo com diversas gravuras no chão e um octograma ao redor, como se fossem uma coisa só.
Pediram que eu pisasse no centro do desenho.
Eu estava animado, mas também um pouco nervoso. "O que aconteceria se eu não fosse bom em nada? O que aconteceria se eu fosse um fracasso?"
E se eu fosse um fracassado como na minha vida anterior?
Será que Luna e Sorin me amariam do mesmo jeito?
Um medo gigantesco se apossou de mim. Quando os olhares de Luna cruzaram com os meus, senti que ela correria para me abraçar se pudesse.
Mantive minhas pequenas mãos juntas, como se o fato de me tocar me trouxesse alguma segurança.
Então, colocaram várias pedras coloridas em diversas partes do desenho e, assim que terminaram, entoaram um feitiço:
— Ó Cicelia, deusa do fluxo divino, mostre-nos se Randolph Rénard recebeu a graça mágica de Magiana ou a graça do conhecimento de Logarian. Você já lhe deu a graça da vida; agora, ajude-o a guiar sua vida de modo a trazer alegria aos deuses criadores deste mundo.
Com esse encanto, os símbolos mágicos brilharam no chão. A luz era forte e me cegava quando olhava diretamente! Um barulho de vibração também podia ser ouvido.
— Então, um mago — proferiu Adélia com um sorriso. — E que luz forte! — continuou. — Alegre-se, criança, Magiana lhe concedeu uma grande bênção!
Olhei para Luna, e ela estava sorrindo para mim com os olhos marejados. Com isso, senti algo queimar em meu coração. Ninguém precisava me dizer nada, pois naquele momento senti meu primeiro círculo mágico girando dentro de mim!
Porém, o teste ainda não havia terminado.
— Agora precisamos ver com quais elementos você tem afinidade — disse Adélia. — Existem quatro: terra, fogo, água e céu.
— Ok — assenti.
Pegando quatro pergaminhos, Adélia os colocou na minha frente, em cima de uma mesa próxima.
— Lembra o que sentiu agora há pouco? O círculo girando dentro de você?
— S-sim — eu disse.
— Consegue fazer igual? — ela perguntou.
— Acho que sim — respondi, hesitante. “Não devia ser tão difícil”, pensei. Fechei os olhos, me concentrei um pouco, e era fácil como piscar. Senti uma força correr pelo meu corpo em questão de segundos.
— Isso mesmo, garoto — disse Adélia.
— Agora, pegue um pergaminho de cada vez na mão e faça a mesma coisa.
Fiz o que foi pedido. O primeiro pergaminho brilhou em azul quando comecei a girar o círculo mágico.
— Não esperava menos do filho de um mago da água. O elemento água é compatível contigo. Tente outro — disse Adélia.
Peguei o próximo, e ele também brilhou, mas agora em vermelho.
— Então, fogo também é compatível com você. Como filho de uma guerreira, isso era esperado — disse Adélia.
— Agora, para acabarmos, pode pegar os próximos. Assim terminaremos os testes.
Peguei os outros dois, e eles também brilharam: um em verde, o outro em amarelo.
— Mas isso é impossível! — exclamou Adélia, atônita.
As duas assistentes gritaram histericamente. Incrédula com o resultado, ela se virou para Luna.
Luna levou as mãos à boca, com uma expressão de surpresa.
Voltando os olhos para mim, Adélia falou:
— Um quadra-elemental, hein? As bênçãos não param, garoto!
— Isso só pode ser brincadeira. Nunca ouvi falar de alguém assim, só em contos dos tempos dos heróis — disse Adélia, coçando a cabeça.
— Luna, você imagina o preço desse menino em ouro? — perguntou.
— Não seja idiota — respondeu Luna, liberando sua aura de batalha pela primeira vez na minha presença. Todos na sala ficaram em silêncio. Era como se um animal feroz estivesse quase me atacando. Levei a mão ao pescoço por reflexo.
Com isso, Luna correu até mim, gritando:
— Oh, me desculpe, Randy!
Com o fim do teste, Adélia e as assistentes se apressaram em arrumar as coisas. Devido ao que aconteceu momentos antes, as caras das assistentes estavam brancas de medo.
Adélia não pareceu se importar.
— Sabe que não falei por mal — disse ela.
— Sim — respondeu Luna, com voz baixa e parecendo envergonhada.
— Isso muda muita coisa. Como vocês são casados, voltarei quando ele estiver presente para organizarmos como as coisas vão se desenrolar. Enquanto isso, lembre-se do que eu te disse!
— Pensem na recompensa. Isso vai acalmar muitas pessoas e evitar muitos problemas! — disse Adélia.
— Entendido! Vamos pensar em algo! — respondeu Luna.
— Fora isso, seu filho é muito educado e inteligente. Geralmente esse teste demora horas, mas, como ele entende tudo de primeira, foi muito rápido — falou Adélia.
— O Randy é assim mesmo! — respondeu Luna, com um sorriso no rosto e a expressão de uma mãe orgulhosa.
E, com isso, elas foram embora!
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