Contos de Thalúrea: A reencarnação de um depressivo! Capítulo 14
Capítulo 14
O ataque a caravana
Mais alguns dias se passaram, e percebi que os ataques dos goblins aumentaram. Eles atacavam em maior número e com mais frequência. Brea, que sempre estava falante, começou a ficar mais silenciosa com o passar do tempo. Marika ficou mais tensa que o normal e, sempre que outro ataque ocorria, segurava sua espada curva bem perto de si.
Até consegui ver alguns goblins mortos enquanto passávamos por eles com a carruagem. Eram verde-escuros, com orelhas pontudas e narizes grandes, não muito maiores do que eu.
— Randolph, está tudo bem? — perguntou Marika, quando passávamos por mais uma pilha de corpos.
— E-estou, sim.
— Não é todo dia que se vê isso. — Tentei brincar um pouco para aliviar a tensão, mas Marika não me deu atenção.
— Esses ataques são estranhos — disse Marika.
Foi então que uma grande gritaria ecoou da vanguarda da caravana. Eram cavaleiras repelindo mais um ataque.
— Mas que inferno! Levante-se logo, segure o cavalo!
— De onde vieram tantos goblins? — Esses eram os gritos que ouvimos.
Sentindo que esse combate era mais perigoso, Marika se levantou e, ao sair da carruagem, entregou um punhal para Brea.
— Você sabe como usar isso?
— A parte pontuda vai no inimigo — respondeu Brea, com sarcasmo.
Com isso, Marika pulou da carruagem rumo à vanguarda e ordenou:
— Cerquem a carruagem principal!
Quatro cavaleiras se colocaram em volta de nós.
Porém, o barulho do combate foi aumentando e durou mais de dez minutos.
De repente, um goblin entrou em nossa carruagem. Gritamos juntos, mas Brea parou de gritar antes de enfiar o punhal no peito do goblin, que caiu morto. Outro estava entrando quando uma cavaleira o puxou para fora e o jogou no chão, finalizando-o com a espada. Porém, ela mesma foi derrubada por outro goblin.
Quando o terceiro tentou entrar, eu já tinha uma estaca de pedra pronta para ele. Acertei sua cabeça, e ele caiu do meu lado da carruagem.
Brea pegou minha mão e me puxou.
— Precisamos sair daqui! — exclamou.
— Espere um pouco, Brea, por favor.
— Ó mãe terra, escute meu chamado, que a estaca de Orós mate meus inimigos! — entoei antes de sairmos.
A estaca de pedra era minha magia mais precisa e, no momento, era o que eu precisava. Brea pulou o corpo de um goblin e me ajudou a descer.
Foi então que vimos que havia guerreiras enfrentando nossa escolta, e que os goblins tinham correntes no pescoço. Elas estavam usando-os como reforço para o ataque.
Corremos para a floresta. Alguns goblins tentaram nos seguir, mas foram pegos por minhas estacas: 1, 2, 3… 15 estacas foram lançadas. Não poupei mana.
Depois disso, corremos até ficarmos sem ar.
Brea gritou:
— Vamos, Randy!
Nesse momento, duas guerreiras inimigas nos cercaram. Elas usavam roupas de couro leve, brincos e colares de ossos. Uma segurava uma espada, a outra um arco.
— Então pegamos o prêmio, e esse veio com algo a mais — disse a guerreira com o arco apontado para Brea.
Mais duas guerreiras inimigas apareceram.
— Vamos levá-lo logo! — disse uma que acabou de chegar.
— Aquela loba lá atrás está em outro nível!
— Vamos logo, antes que ela chegue!
— Que pena! Vamos ter que esperar pra brincar com o moleque! — disseram, em tom de chacota.
— Nem pense nisso. Da última vez, o estame acabou morrendo. Não quero ser castigada novamente.
Nesse momento, duas cavaleiras de Amicítia estavam se aproximando. O barulho de suas armaduras deixou as guerreiras tensas. Quando elas vieram nos pegar, Brea acertou uma com o punhal.
Não foi fatal, mas deu tempo para que nossa escolta chegasse.
Mesmo assim, era quatro contra duas, e a líder inimiga não parecia uma guerreira comum.
Luna sempre disse que a capacidade de definir a força do adversário mostra em que nível você está. Se você não consegue enxergar o nível dele, é melhor fugir, pois não teria a menor chance. E eu nem conseguia imaginar a força da líder.
O combate começou. Usei estacas de pedra para auxiliar, e funcionou contra três das quatro. Nem todas acertaram, mas deram abertura para que as cavaleiras fizessem seu trabalho.
Porém, após as três caírem, a líder inimiga derrubou nossas duas cavaleiras e chutou Brea para trás. Brea voou antes de bater numa árvore.
— Que cansativo! Esse trabalho está um inferno! — gritou a líder.
Ela me acertou um soco com a palma da mão, que me fez rodopiar no ar antes de cair. Depois da queda, comecei a correr com toda a minha força. O sangue tomou minha boca, e meus braços, esfolados pela queda, doíam.
O medo tomou meu corpo. Entoei estacas de pedra enquanto corria para longe dela e disparei muitas, mas não fizeram nada. Algumas ela defendeu; outras, ignorou.
Eu corria, e ela caminhava. Minha cabeça ainda rodopiava pela queda.
Depois de um tempo, minhas pernas cederam, e caí de joelhos enquanto ela se aproximava.
— Cansou de correr? Estames são sempre assim — disse ela, gargalhando.
— Vamos cuidar bem de você, não se preocupe! — continuou, com um sorriso doentio.
Se eu usasse qualquer magia, ela defenderia. Bala mágica, estacas de pedra, bola de água — nada funcionaria.
— Isso, gosto de ver esses olhos sem esperança — falou a líder, pegando meu rosto e apertando minhas bochechas.
Um ataque por trás! Foi o que pensei na hora, mas só daria certo se ela tivesse outro objetivo além de desviar.
Gritando — Ég! — e girando meus círculos, ela me soltou. O ar começou a girar ao nosso redor, levantando folhas e poeira.
— Mas que diabos? Não posso te matar, mas posso te quebrar antes de te arrastar comigo, sabia? — falou a líder, de forma ameaçadora.
Criei o máximo de ar ao meu redor. Mas, quando a guerreira se deu conta, já era tarde! Ela ainda tentou me agarrar, mas me afastei o quanto consegui com um pulo para trás.
— Tűz felrobban! — gritei. A língua do dragão nunca foi tão útil; se fosse entoar o encantamento completo, jamais conseguiria terminá-lo.
Uma chama apareceu atrás da líder, e uma explosão aconteceu.
BOOOOOOMMMMM!
Meu corpo rolou, batendo em galhos, pedras e terra. Fiquei me movendo por algum tempo depois da explosão. Tudo rodava.
Cuspi sangue, e meu corpo não queria se levantar. Com certeza, algo estava quebrado dentro de mim. Pela dor, havia mais de uma coisa quebrada. Até respirar doía.
Olhei para cima. A líder estava caída não muito longe de mim, de costas, com fumaça saindo de seu corpo.
Pouco tempo depois, ela se levantou.
— Gggggiiiiiiiaaaaaaa, muleque desgraçado! Eu vou te quebrar tanto que nem as bruxas vão te querer! Vamos te usar e te jogar fora como um pano velho! — gritou a guerreira. Suas costas estavam em carne viva, e em alguns lugares dava para ver os ossos.
Ela começou a se mover em minha direção, gemendo e me amaldiçoando.
Que droga! Não consegui fazer nada. Não havia mais mana, e meu corpo estava inerte. Comecei a me arrastar — era a única coisa que me restava!
— O que você fez com meu sobrinho, sua desgraçada?
— Só estávamos conversando — respondeu a guerreira, com deboche, enquanto tentava erguer a espada. Porém, a espada caiu junto com seu braço.
Era Marika, com uma feição que eu ainda não havia visto em seu rosto. Ela virou um borrão.
Um grito fino saiu da boca da líder caçadora:
— GGGGGGGIIIIIIIIIAAAAAAAAAA!
Sua cabeça saiu voando enquanto gritava.
Ao ver a cabeça dela no chão, uma sensação de segurança me alcançou. Com o baixar da adrenalina, meus olhos também se fecharam.
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